Entre as principais ações estão o monitoramento via satélite e a integração entre órgãos e entidades para fortalecer as medidas preventivas. Especialistas alertam ainda para o agravamento das mudanças climáticas a partir do aumento dos incêndios.
G1-Goiás
Incêndio no Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros em Goiás — Foto: Divulgação/ICMBio
Anualmente, as chamas das queimadas criam uma paisagem acinzentada e impactam de forma significativa a vida da população goiana. São problemas de saúde relacionados à baixa qualidade do ar e diversos prejuízos econômicos e ambientais, como uma ameaça à biodiversidade. De 2023 (ano que teve redução nas queimadas) para 2024, os focos de queimadas em Goiás aumentaram em mais de 130%, segundo um levantamento, deixando marcas profundas no coração do Cerrado.
“Nós temos a ‘cultura do fogo’ [costume do uso indiscriminado do fogo para atividades diversas]. No Brasil e em Goiás mais ainda. Tem que mudar esse padrão para evitar futuros incêndios”, avaliou o promotor de Justiça Juliano Araújo.
Os dados do aumento das queimadas são do Programa de Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Esse acréscimo, de acordo com uma análise feita em setembro pelo Instituto Mauro Borges (MIB), pode trazer um prejuízo de até R$ 1,5 bilhão para a economia goiana até o fim de 2024.
Para reduzir o impacto das queimadas, profissionais de diversas áreas, como a Secretaria de Meio Ambiente (Semad), o Ministério Público de Goiás (MP-GO), o Corpo de Bombeiros e as forças de segurança goianas, têm elaborado estratégias de combate e prevenção. Entre as principais ações estão o monitoramento via satélite, que agiliza a resposta aos focos de incêndio, e a integração entre órgãos e entidades para fortalecer as medidas preventivas.
Aumento das queimadas
Dados do Programa de Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) revelam que, de janeiro a 30 de setembro de 2023, foram registrados 2.478 focos de incêndio ativos em Goiás. No mesmo período em 2024, esse número saltou para 5.796, representando um aumento de 133,9%.
Na análise dos últimos dez anos, o monitoramento mostra que, em 2014, Goiás registrou 5.897 focos de incêndio ao longo de todo o ano. Outro ano crítico foi 2019, com 7.160 focos. Em 2024, agosto e setembro foram os meses mais graves, com 1.120 e 3.111 focos, respectivamente. Segundo o Inpe, a maioria das queimadas em Goiás ocorre entre junho e outubro, refletindo uma sazonalidade que coincide com o período de seca.
O professor Fernando Araújo atua no Instituto de Estudos Socioambientais (Iesa) da Universidade Federal de Goiás (UFG) e explicou que, apesar desse aumento de incêndios em Goiás, o bioma Cerrado como um todo apresentou certa estabilização na média das áreas queimadas nos últimos anos.
Os dados divulgados no monitoramento do Inpe mostram, nos anos de 2014 e 2015, que o Cerrado teve 65 mil e 76 mil focos, respectivamente. Esses dados se mantêm estáveis ao passo de que a margem de 60 mil focos se repetiu nos anos de 2019, 2020 e 2021. Além da quantidade dos focos de incêndio, a intensidade do fogo é um fator importante a ser considerado, segundo o professor.
"[No Cerrado], a gente não pode dizer que houve uma queda de ano a ano. Se compararmos, por exemplo, o ano de 2012 [que, segundo o Inpe, teve 90 mil focos], esse aumento não é tão significativo. A questão é a intensidade do fogo. Ou seja, o fogo, nos últimos anos, devido a essas alterações climáticas, vem aumentando em severidade", ponderou Fernando.
O capitão do Corpo de Bombeiros Jonathan Soares lembra, inclusive, sobre a dificuldade de combate do fogo a depender da intensidade do incêndio. Além disso, ele pontua que esses desafios são ainda maiores durante o período de seca.
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