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Escolas fecham o cerco a uso do celular e aumentam proibição na volta às aulas


Banimento total do celular começa a ser adotado diante da discussão sobre efeitos nocivos para a saúde e para o aprendizado




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Celular no ambiente da escola: efeitos nocivos (Foto: Pexels)



Escolas públicas e particulares no Brasil e em outros países ampliam a restrição aos celulares diante de estudos que apontam graves consequências do uso excessivo do aparelho por crianças e adolescentes, tanto para o aprendizado quanto para a saúde mental.


O veto em sala de aula já se dissemina, e o banimento total no ambiente escolar começa a ser adotado, normalmente com o apoio –e até o apelo– das famílias.


Na Escola da Vila, em São Paulo, por exemplo, foi colocado nas salas do ensino médio um suporte plástico ao lado da lousa, semelhante a uma sapateira, em que os estudantes devem guardar os aparelhos desligados. “Isso tem ajudado bastante a manter o foco nas aulas”, diz Pablo Soares Damaceno, diretor do ensino médio.


Ele conta que a escola dá preferência a notebooks e tablets para atividades que envolvem a tecnologia e que, no recreio, tem incentivado a prática de esportes, música e jogos na tentativa de reduzir a dependência no celular.


O avanço das restrições foi recomendado por um relatório da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) do ano passado, contundente ao apontar estudos que mostram uma “associação negativa entre o uso das tecnologias e o desempenho dos estudantes”.


À ocasião da divulgação do relatório, em julho, 1 em cada 4 países já tinha regras para restringir o celular nas escolas e, entre os que haviam anunciado o veto, estavam Espanha, Portugal, Finlândia, Holanda, Suíça e México. Desde então, o banimento vem ganhando espaço em outros países, entre os quais o Canadá e os Estados Unidos.


É um movimento oposto ao do primeiro momento do pós-pandemia, quando, depois das aulas online, as escolas entenderam que deveriam incorporar o celular, considerando também as dificuldades de sociabilização dos alunos causadas pelo isolamento.


Da mesma forma, ampliou-se o uso de tecnologia na educação, e o celular ganhou status de ferramenta pedagógica, tendo, inclusive, o uso requisitado em sala de aula. A ideia geral era a de aproveitar o que seria o lado positivo do celular, a partir da constatação de que ninguém parecia capaz de desgrudar do aparelho.


Na prática, mostrou-se inviável conter o uso de redes sociais e jogos online pelos alunos e se percebeu que o celular, mesmo quando guardado nas mochilas, atrapalha a concentração.


Em dezembro, o Pisa (Programa Internacional de Avaliação dos Estudantes) divulgou dados alarmantes, entre os quais o de que 65% dos alunos de 15 anos nos países pesquisados relataram que se distraem nas aulas de matemática com o celular. No Brasil, a média é ainda maior, chegando a 80%. Quase a metade (45%) dos estudantes disseram se sentir nervosos ou ansiosos quando estão longe do celular.


Diante dos prejuízos evidentes, o controle deverá ser mais efetivo no novo ano letivo.

Walter Borja, diretor do Colégio Nossa Senhora das Graças, o Gracinha, de São Paulo, conta que, desde o ano passado, já havia a determinação de proibir os celulares até o 6º ano em sala de aula, “mas o controle era superficial”.


“Agora os celulares devem estar desligados e são colocados em uma caixa ou mantidos nas mochilas. Cada sala tem sua caixa”, explica. Já a partir do 6º ano e no ensino médio, relata o diretor, antes era estimulada a utilização do celular para pesquisa e outros fins pedagógicos. “Mas agora vamos conter esse uso”, afirma.


O Colégio Magno elaborou, com a participação das famílias, alunos e professores, uma nova política do uso do celular, que, a partir de agora, não será permitido nas salas de aula nem para atividades pedagógicas.


“Entendemos que, sim, contatos externos tiram o foco dos alunos e prejudicam a aprendizagem”, diz a diretora Cláudia Tricate. A tecnologia, quando necessária, será utilizada por meio de outros dispositivos, como notebooks e tablets.


Francisco Manuel Ferreira, diretor pedagógico de fundamental 2 e ensino médio da Escola Viva, diz que a proibição total é cogitada para este ano, “a depender das situações que se apresentarem”. Por ora, o uso do aparelho é liberado nos intervalos e em sala de aula, para fins pedagógicos, a partir do 6º ano.


“Em função de um uso excessivo e até grave do celular, como a exposição indevida de alunos em redes sociais, consideramos suspendê-lo de forma geral na escola já no ano passado, em algumas séries e por tempo determinado”, afirma.


Segundo ele, o veto total tem sido solicitado pelas famílias, mas a escola ainda resiste, por considerar “que o celular faz parte da vida e que a escola é um espaço importante no processo formativo de aprender a lidar com a tecnologia”.


É o mesmo raciocínio da Carandá, em que o uso é proibido até o 5º ano, mas liberado a partir do 6º nos intervalos e, com autorização do professor e para fins pedagógico, nas aulas. “Compreendemos que a educação digital é também responsabilidade da escola e que a proibição do celular no ambiente escolar somente restringe a problemática”, defende a diretora pedagógica, Ligia Colonhesi Berenguel.


Nas rede estadual de ensino de São Paulo, o uso da tecnologia vem crescendo na gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos), inclusive aplicativos em celular.


Questionada sobre o avanço das restrições ao aparelho contra danos a crianças e adolescentes, a Secretaria da Educação, sob comando de Renato Feder, respondeu, em nota, que “o uso do celular em sala de aula é permitido exclusivamente para finalidades pedagógicas” e que “o mau uso das tecnologias é mediado por meio do Programa de Melhoria da Convivência e Proteção Escolar (Conviva-SP), que prevê o diálogo entre estudantes e gestão escolar e, quando necessário, com a presença dos pais e responsáveis”.

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