Globo Esporte
Neymar chora após a derrota do Brasil para a Croácia pelas quartas de final da Copa do Mundo 2022 — Foto: REUTERS/Lee Smith
Uma relação intensa, à flor da pele, e nem sempre muito saborosa. É inegável que a Copa do Mundo guarda capítulos dramáticas na carreira de Neymar. Desta vez, não foi diferente. Em 21 dias no Catar, o camisa 10 do Brasil sofreu mais do que sorriu, e volta para casa com um grande ponto de interrogação pela frente: terá ânimo para seguir com a Seleção na América do Norte em 2026?
Depois da grave lesão nas costas no Brasil, em 2014, e de virar alvo de críticas do mundo inteiro em 2018, na Rússia, sob a pecha de cai-cai, a Copa de 2022 surgia como redentora para o craque brasileiro. O início de temporada no PSG foi encantador com gols e assistências, mas o imponderável novamente entrou em ação já na estreia diante da Sérvia.
Neymar ficou mais tempo no DM do que no campo na passagem por Doha. Caçado diante dos sérvios com nove faltas sofridas (um recorde na história da competição), viu a boa atuação com direito a jogada para o primeiro gol de Richarlison ser ofuscada por uma nova lesão no tornozelo.
Neymar em Copas
13 jogos
8 gols
4 assistências
O diagnóstico indicou que os ligamentos foram afetados, e Neymar passou dez dias em tratamento intensivo. Nos oito primeiros, sequer saiu do hotel onde a Seleção estava concentrada e, sim, a participação na Copa do Mundo esteve em risco.
Do quarto, viu a vitória sobre a Suíça. Da arquibancada, a derrota para Camarões. E voltou a tempo das oitavas de final contra a Coreia do Sul. De cabelo loiro e sorriso no rosto, teve boa atuação no 4 a 1 com direito a gol de pênalti e careta para os críticos na comemoração.
A Copa da dor também foi dos recordes. Neymar se juntou a Ronaldo como um dos que marcou gols em três Mundiais com a camisa do Brasil - Pelé fez em quatro Copas. As coisas pareciam entrar nos eixos, e o craque chegou todo estiloso de óculos juliet à Cidade da Educação. As quartas de final contra a Croácia era mais um passo para a consagração. E quase foi!
Neymar foi dos jogadores brasileiros mais efetivos em campo. Não dá para negar que assumiu a responsabilidade, por mais que tivesse desperdiçado três chances claras nos 90 minutos. A arrancada com tabelas com Rodrygo e Paquetá na prorrogação colocou Neymar na história: com 77 gols, igualou Pelé pelas contas da Fifa.
A festa, por sua vez, logo virou pesadelo. A Croácia empatou e venceu nos pênaltis sem que Neymar sequer tivesse feito sua cobrança - prevista para ser a quinta. Os olhos marejados na zona mista evidenciavam o peso do drama. A Copa do Mundo de novo não sorriu para Neymar:
– Parece que é um pesadelo. Não dá para acreditar no que está acontecendo.
– Essa derrota vai doer por muito tempo. Por isso, é tão triste. Queria agradecer ao torcedor brasileiro pelo apoio, carinho e respeito com todos os companheiros. Dizer que infelizmente não conseguimos nosso sonho, mas faz parte, é futebol e acontece. Agora é ir para casa, lamentar e sofrer pela derrota — desabafou.
Há 12 anos na Seleção, Neymar é muito mais do que um protagonista, se tornou líder. E lamentou o terceiro ciclo sem conquistar o Mundial:
— Falei algumas palavras sobre todo esse ciclo, esses dias que ficamos juntos. Passa muito rápido, por isso tem que aproveitar o máximo. A carreira de um se encerra na seleção, de outro também, jovens chegam. Fizemos muitos amigos aqui, estou contente de ter feito parte deste grupo, estou orgulhoso de cada um. Infelizmente não coroamos este grupo com a vitória, mas acontece. É lamentar neste momento de tristeza, é difícil encontrar palavras para confortar cada um.
O futuro está em aberto. Não se sabe o que será da relação entre Neymar, seleção brasileira e Copa do Mundo daqui para frente. O passado, por sua vez, está escrito, e não reserva capítulos muito felizes nesta história.
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